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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

[MULTI] - Dead Space 2 é o seu novo pior pesadelo favorito


Issac Clarke, o protagonista de Dead Space, é um engenheiro. Não um mercenário, não um membro da SWAT, não um fuzileiro naval espacial – um engenheiro, que anda meio corcunda, respira fundo para pegar fôlego e dá umas coronhadas meio tortas e desengonçadas. Isso é parte do que fez o primeiro jogo tão bom e parte do que causou uma estranheza quando a sequência foi anunciada, mostrando um herói em poses acrobáticas “muitolokas”, usando uma armadura parecida com a do Jaspion.

A impressão foi que, assim como Resident Evils e Silent Hills recentes, a série já havia perdido o equilíbrio entre o terror e ação – e isso em apenas uma continuação? Seria um novo recorde, se essa impressão não tivesse sido pulverizada nos primeiros segundos de Dead Space 2. Você começa sendo entrevistado por um médico. E vê um fantasma. De repente, está em um manicômio, preso em uma camisa de força e fugindo de monstros entre aparelhos quebrados e paredes sujas de sangue. O primeiro tiro acontece alguns bons vários minutos depois, e isso é excelente.





Manter a relação tênue entre as duas coisas foi só uma das conquistas da Visceral Games nesse novo jogo. Ela também aumentou a intensidade, tudo está maior. O jogo é mais assustador, mais perturbador, muito mais difícil e infinitamente mais violento que o original. Se você ficou impressionado com God of War III, esqueça. Pense em algo entre Mortal Kombat e Jogos Mortais. Quando não está fazendo com que você se desespere entre hordas de Necromorphs que invadem uma sala minúscula por todos os lados, Dead Space 2 assusta e choca como poucos. Imagine ter de guiar uma agulha, com as próprias mãos, até que ela perfure o olho de uma pessoa. Sem censura, sem jogada de câmera, sem nada. Não é à toa que as mamães torceram o nariz.

Em busca do susto perfeito


Cada momento de Dead Space 2 é tenso e incômodo, talvez até demais. O primeiro momento de “sossego” vem só pelo quinto ou sexto capítulo, quando você já passou pelo menos duas horas fugindo, matando e delirando sem parar. Qualquer vestígio de previsibilidade que existia no original foi, com o perdão da piada infame, para o espaço. 

Antes, você, ao ver uma saída de ventilação, podia prever que alguma coisa sairia rastejando dali quando você virasse as costas. Em Dead Space 2 isso dá lugar à sensação de que você está sendo caçado, observado o tempo todo. Os inimigos se escondem em cantos escuros e dão o bote aos poucos até que, se você se descuidar, estará completamente cercado.





Os Stalkers são um dos novos tipos de Necromorphs. Você chega em uma sala ampla, cheia de caixotes altos e outros obstáculos, e percebe uma movimentação suspeita. 

Você puxa sua fiel arma lanternada para investigar, vê monstros correndo e pulando entre as caixas. Às vezes, um deles só coloca a cabeça para fora do esconderijo, para ter certeza da sua posição e aumentar a tensão. Nesse mesmo momento você ouve um grito vindo do seu ponto cego, e de repente surge um desses Stalkers correndo em sua direção para atacar com uma cabeçada. Os bichos brincam com você.

Não só os bichos, mas todo o resto também – luzes piscantes, jogos de sombras e, principalmente, barulhos perturbadores. A música (com exceção do excelente tema que toca nos créditos) pode bem passar despercebida no meio de todas as vísceras e membros flutuantes, mas é impossível ignorar o som de objetos caindo ou vidro quebrando no lado mais sombrio do cenário, ou de passos leves e rápidos que parecem estar seguindo você por todo canto. Sem esses detalhes, Dead Space 2 não daria metade dos sustos.

Por outro lado, Isaac também conta com mais recursos para tentar sobreviver aos 15 capítulos e mais-ou-menos nove horas de jogo, quase o mesmo que o primeiro Dead Space. Há mais “dinheiro”, mais munição e mais itens de cura espalhados por aí, comparando as dificuldades normais de ambos os jogos, mas tudo isso ainda é pouco, no final das contas. Todas as armas do original estão presentes, desde o glorioso pregador laser até o lança-chamas, acrescidas de três inéditas: um disparador de lanças, um rifle de precisão e um lançador de granadas, todos incrivelmente úteis e que revelam outro trunfo da sequência. Antes não era muito difícil atravessar toda a Ishimura só com a sua fiel Plasma Cutter – agora, cada situação pede usos inteligentes de pelo menos duas ou três armas.

Lar, Doce Lar


Por falar em Ishimura, você vai voltar a visitá-la. Ah, vai. Afinal, foram três anos entre uma história e outra, tempo suficiente para que o herói sinta saudades.

Mas o restante do jogo se passa em Sprawl, colônia humana numa das luas de Saturno e um dos maiores assentamentos dos Unitologistas, religião que tem muito a ver com o que aconteceu antes e o que acontece atualmente na vida do pobre engenheiro. Isaac, aliás, agora também é relativamente tagarela, uma grande mudança do tipo calado do Dead Space original. Isso, apesar de dar a ele ares de Solid Snake de vez em quando (voz rouca, diálogo de qualidade duvidosa etc) não atrapalha o roteiro interessante e intenso, ainda que bagunce conceitos estabelecidos no episódio anterior – como a função do artefato Marker, por exemplo.

Perambular por uma cidade, e não estar preso a uma estação espacial, implica na variedade de cenários, o que poderia ter feito o jogo perder um pouco da claustrofobia do original. Isso é verdade, mas esse suposto mal acaba vindo para o bem: a Visceral Games usa aqui as técnicas da escola BioShock de transformar lugares familiares, bem iluminados, tranquilos e ainda com cheiro de vida em pesadelos ambulantes. Como uma creche, por exemplo, com seus bebês zumbis explosivos. Isso sem contar nos Necromorphs crianças, de 5, 6 anos, que correm na sua direção com sons e movimentos realistas até demais.

Mesmo assim, a Visceral Games conseguiu criar um personagem mais profundo e, com isso, contar uma excelente história de terror especial – e uma das melhores histórias de terror dos games atuais. No fim do jogo, muita coisa se explica, mas é claro que temos algumas “deixas” para a existência de um terceiro jogo. Dead Space 2 combina momentos horripilantes, altas doses de sanguinolência, combates desesperadores e um clima sensacionalmente sombrio e opressor. É o equilíbrio que, aparentemente, nenhuma outra série de terror consegue manter, e o que faz de Dead Space 2, hoje, um dos melhores jogos do gênero.

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